28.6.11

Só há um filme.

É quase sempre nas personagens que reflectem as nossas fraquezas que está o mais provável de nós. Isto é tão verdadeiro com Fredo no Padrinho como com George em Seinfeld. A cautela leva a que nos afastemos do príncipe perfeito que é Sonny Corleone e o pudor afasta-nos de Michael. O que é mais difícil de entender é a repulsa que tantos dos que vêem o Padrinho sentem por Kay Adams. Estranho porque, como Fredo, Kay é uma de nós, não nas suas fraquezas mas por ser alienígena a todo aquele código de honra e de família. E estranho porque, num filme apinhado de cobardes, homens que mandam matar, homens que batem em mulheres grávidas, de bufos e traidores, num filme onde a coragem é tão ausente de todos, com as importantes excepções de Vito e Sonny, deixamo-nos naturalmente comover com o genro do padeiro que escolhe ficar com Michael à porta do hospital, mas não com a extraordinária coragem de Kay durante toda a saga.

Fredo é perdoado por deixar cair a arma enquanto o pai é assassinado por temermos que a nós próprios sucedesse o mesmo. Kay deixa de ser uma de nós, no momento em que, à traição, revela a coragem que reservámos para os heróis. E isso nunca lhe perdoaremos.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Deixa eu rever ofilme atentando pra essa ótica. Aí eu vou poder emitir minha opinião.

4 de julho de 2011 às 15:31  

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