27.2.11


18.2.11

Speed, Lta

O Rui ria-se quando se vinha e eu punha-me a chorar, a chorar, a chorar, a chorar por mais, inconsolável, condenada ao Speedy Gonzalez da fodinha.

Fiz-me homem

Devo tudo ao Centro de Emprego. Se estou à porta dos trinta e nunca trabalhei mais do que um total de sete dias na minha vida, foi porque todas as reuniões de aptidão vocacional com a (enfim...) Técnica de Apoio à Procura de Emprego concluíram que estava apto para formação profissional. E apto entrei num curso de três anos de jardinagem, que abandonei ao fim de um, quando me vi de ancinho na mão rodeado de ex-reclusos e outros "grupos de risco". Tinha planos para a minha vida. O curso de Mesas e Bar, de outros três anos, consegui completar, mas antes de terminar a primeira semana de trabalho, soube que se mais alguém me revirasse os olhos por me enganar no pedido (mesmo com o bloquinho, é difícil dar conta de tudo), eu teria que virar-lhes a mesa nos cornos. E foi assim, zangado com a vida, que entrei no curso de Cabeleireiro, ainda por três anos, que se limitaram a duas semanas, ao fim das quais fui informado que era muito pouco comum arrancar a cabeça a três manequins (de plástico, calma), com a força da escova no cabelo.

Que se foda, também nunca gostei de acordar cedo.

17.2.11

Diário de anti-bordo #1

Quando eu era puta, chamavam-me melancólica; agora que não sou puta por adventismo e detenho a carteira profissional de melancolista, é só por puta que atendo. Nunca compreendi o que fazia do meu olhar o mais vítreo, tampouco o que acontecera ao mundo para parir clientes inteligensíveis – há lá coisa mais chata que afagarem-nos o cabelo enquanto lhes chupamos a pila? O Tito era o meu preferido; mandava-me chupá-lo e depois punha-se a cantar «Favas com Chouriço». Se eu me engasgasse com o riso, recebia mais, o que não era fácil de conseguir, contudo. A Berta vem cá ver-me amiúde, a miúda. Diz que a crise chegou à putaria e que eu sou lembrada na portaria. Eu digo-lhe que crise é não poder trabalhar, ao que ela acresce «cá fora não é diferente». Lá fora, eu era uma pulga, mas a prisão condenou-me à modorra mais empedernida. Só penso em cama, quanta ironia. Nada mudou, mudou tudo. Puta de prisão.