14.3.11

- És um zero.
Não foi ter-me dito isto que fez dela uma puta, muito pelo contrário: És um zero era tudo o que eu queria ouvir, letra a letra. Também não foi por ser um cretino que a única resposta possível teria de ser - Tu é que és. Afinal, talvez o zero a denominador não faça o universo implodir, ou outras catástrofes semelhantes. E ainda que faça...

7.3.11


© Sara Portela


A prisão do ponto de vista do interior e, daí, a imagem apreendida como aprisionamento do exterior. Uma capturada capturando.

5.3.11

There's no loveeeee – Like your loveeeeeee

Tudo começou com um açoite no rabo, um lombo no forno e um termoventilador no banho. Enquanto eu punha base e ele fazia a barba, saiu-me das cordas o Bryan Adams com a obra que mais fez pela criança romântica que viria a transformar-se nesta puta que vos escreve. You know it's trueeeee, everything I doooooo e, aí, apanhada na estrada da lamechice com um xixizinho nas cuecas, ouvi-o continuar ao meu lado I do it for youuuuu. E então soube-o: havia nascido um amor – o amor entre dois cretinos.

4.3.11

"Whenever we needed money, we'd rob the airport. To us, it was better than Citibank"

Fiquei assim à beira de um longo período de desemprego, com a garantia do rendimento mínimo por um ano e uma casa alugada em plena Rua Augusta, juro que é verdade. No meu prédio e nos dois seguintes não morava rigorosamente ninguém, um luxo, a renda era ridícula, e não me aborrecia que a casa caísse aos bocados. Nem me aborrecia não trabalhar, pelo contrário. Não me lembro de dia algum, desde que entrei na escola, em que tivesse qualquer tipo de zelo ou ética de trabalho, só me custava não ganhar dinheiro. O meu sonho era ter uma cena como no Tudo Bons Rapazes, assaltar o aeroporto de vez em quando, e a certeza de que ninguém se metia connosco. Sei tanto sobre o filme, que cheguei a passar tardes inteiras a imaginar-me naquele programa da Inês de Medeiros a explicar porque é que este é o filme da minha vida aos portugueses.