29.1.12
It's our anniversary
A celebration of
And here's to next year
Maybe you'll join me in my car
We'll drive together
But not too far
10.12.11
16.8.11
15.7.11
Lennon/McCartney
Quando a conheci, a Puta encontrou o momento certo, respirou fundo e, com um encolher de ombros desafiante, disse: sabes, eu não ligo a Beatles. Respondi-lhe que , ao contrário dos tópicos de uma lista que lhe tinha feito chegar, isso não era uma condição eliminatória de um futuro feliz desta relação, e expliquei que, só neste caso (o caso é a banda, não é a miúda), não tenho sentido de missão evangélica, pelo que não seria eu a chatear-lhe os cornos.
A única doença que prolifera pela comunidade quando se fala nos rapazes, é a que leva uma quantidade desesperante de gente a afirmar que, com a idade, descobriram o melhor dos Beatles no George Harrison, uma declaração burra e preguiçosa que prova que a idade faz mal aos indivíduos.
A única consequência admissível (e expectável) da passagem dos anos é a paz com Paul McCartney, que deve ser devidamente odiado na juventude e perdoado por ser quem é alguns anos depois. Sempre com a consciência, claro, de que o erro esteve sempre do nosso lado.
True story
Paul McCartney - Drive my car
She said baby, it's understood
Working for peanuts is all very fine
But I can show you a better time.
Falar claro II
Sou da geração de setenta (gostamos tanto de dizer isto) e cresci a discutir no liceu se o melhor actor de todos os tempos seria o Pacino ou o De Niro. Hoje ninguém arrisca o chavão de melhor do mundo para qualquer um dos dois, que, por cansaço, se tornaram na canção perfeita que tocou vezes demais e não se pode agora ouvir. Claro que os gritos de um e as comédias do outro não estão a ajudar.
O melhor exemplo que já vi do que descrevi no post abaixo não está num filme de conversa, pelo contrário. Em Goodfellas, De Niro coordena um grupo de irresponsáveis após um assalto e somos informados que perdeu a paciência e que tomou a decisão de limpar o sebo àquela alimária por estes trinta segundos de silêncio e de Sunshine of your love.
14.7.11
Falar claro
Da mesma forma que ainda hoje se procura a canção pop perfeita, com I love you no refrão e três minutos de duração, boa parte da minha vida é passada à procura do filme de conversa perfeito. O género cinematográfico filme de conversa, que estranhamente nunca aparece nas listas, é aquele em que a única acção decorre de pessoas a conversar (a boa conversa tem sempre consequências narrativas). Já houve quem chegasse perto da perfeição como em Twelve Angry Men (pessoas a conversar numa sala de júri), Diner (pessoas a conversar numa mesa de café), ou Annie Hall (pessoas a conversar em filas de cinema ou enquanto cozem lagostas).
Em alguns casos, raros, se o autor souber o que está a fazer haverá uma cena em que ninguém abre a boca, quase sempre aquela em que se concretiza o que tememos ou desejámos e o plot thickens. Um desses momentos está em Igby Goes Down, um filme que tem em simultâneo o Gore Vidal no papel de um padre, o Kieran Culkin (gosto tanto deste rapaz) e a Amanda Peet, artista junkie, com algum excesso de problemas e ex-amante de Jeff Goldblum.
Este é o momento em que, depois de uma dolorosa ausência e de tudo o resto falhar, ela tenta uma última vez. Veste-se de esposa, deixa a pinta de artista do Soho no loft e combina um café. Precisamente as três coisas que ele não quer daquela mulher.
Gente da família
Before you begin hanging around with white people, you should know that all white humor comes from three sources: The Simpsons, Monty Python, and The Onion. [...]
O Stuff White People Like nunca me falhou, mas esta entrada reflecte-me melhor se a parafrasear um pouco: Toda a minha cretinice vem dos Simpsons, Monty Python e Larry David. Poucas qualidades me enternecem tanto quanto o empenho de alguém em evitar o cliché e não se levar a sério. O Curb Your Enthusiasm, o maior conjunto de cretinos desde, evidentemente, Seinfeld, está de volta e a iluminar as minhas tristes segundas-feiras, que são o inferno que são por, provavelmente, nunca me ter levado muito a sério.
12.7.11
Há uns anos a minha vida levou-me a saber muito sobre patentes e propriedade intelectual e achei bonito o acordo a que chegámos. Emociona-me quando as pessoas se organizam para abdicar de liberdades pelo bem comum. Emociona-me o Contrato Social, a Revolução Americana, ou o Estado de Direito.
No caso da propriedade intelectual, atalhando, chegou-se à conclusão que, em troca de se tornar determinada ideia pública, o seu autor é pago de cada vez que a mesma for usada por alguém. O segredo deixou de ser a alma de negócio excepto para a Coca-Cola, que prefere não ter patente sobre a receita e mantê-la secreta (mas tem patente sobre a garrafa, claro).
E daqui para os direitos de autor. Só há pouco (a propósito de uma banda de reformados que toca músicas de José Afonso) me apercebi da tristeza da situação do artista, ou da família do ex-artista, que não pode mais proibir que alguém, pagando, lhe reproduza a obra, seja com amplificação eléctrica ou flautas de Pã. Não pode proibir alterações à letra ou que seja cantada em implacável desafinação em programas de TV.
Entendo que era isto ou um fartar vilanagem de plágios, mas é um triste preço a pagar por não se poder confiar nas pessoas no geral.
Concluindo, Menina Limão (já chega de links), se nos estás a ler, não vale a pena chorar pelo blogue derramado. Estamos num mundo em que a propriedade é um dos Direitos Fundamentais, e o blogue é nosso, apesar de obra reconhecidamente tua. Se um dia achares que a Puta foi longe demais, podes sempre pedir-nos para tirar o teu nome ali de baixo, mas duvido muito que ela vá nisso. És um bocado nossa, também.
11.7.11
Queridos, mudei a casa!
A Menina Limão não tem rigorosamente rien a perdoar-me. Onde eu vivo é tudo cinzas e cocó e eu preciso de pink na minha vida.
7.7.11
"Não é decadente, é chato"
Aquilino Ribeiro, em 1926, sobre Jazz:
O jazz band costumava oferecer-se em espectáculo na feira de Alcântara, numa barraca de ripas e lona, miserável, rudimentar e cachaceiro. (...) Ninguém que se prezasse se dava ao desenfado de ir ouvir a música bárbara dos pretalhões e seus saracoteios obscenos. Não porque fosse interdita ao pudor; mas porque era apenas uma diversão sem graça nenhuma
Ilustração de decadência
Em Do Céu Caiu uma Estrela, um homem que alimentava o sonho de conhecer o mundo e ser dos que o mudam, vê-se preso por uma sucessão de infortúnios à sua pequena e chata povoação. Quando já tudo correu mal, considera o suicídio, momento em que um anjo lhe mostra como seria a vida na povoação e dos que lhe são queridos se ele nunca tivesse nascido. É uma fábula simples e bonita, embora a cidade que o anjo lhe mostre seja agora um corrupio nocturno de bares e estabelecimentos com música, uns bilhares e muita gente na rua, o que cria alguma dificuldade no cidadão contemporâneo em entender o horror que George Bailey experimenta quando passeia pelas ruas. A Puta, no entanto, não teria qualquer problema em entender a questão e também ela teria implorado ao anjo que lhe devolvesse a sua vida. Porque, sem excepção, em todos os bares de Pottersville, a cidade corrompida, se ouvia o swing instável de jazz tocado ao vivo.
6.7.11
Rock com traços de carácter #1 ou "Just because you are a character doesn't mean that you have character."
Como é do conhecimento geral, uma pessoa vai parar ao inferno se falar mal de Xutos e Pontapés, e Deus sabe que eu tentei fazê-lo. Sempre que consegui ir mais longe do que uma elevada indiferença por parte dos meus interlocutores, recebi de volta o argumento de que, sim, talvez não sejam os melhores do mundo, mas são uma banda honesta. Mais tarde, a ler um texto de Miguel Esteves Cardoso sobre o álbum Sandinista de Clash, lá estava outra vez o epíteto: uma banda honesta. Há muitas outras, normalmente em anúncios da Vodafone, de preferência com três ou quatro elementos e sem pretensões a mudar o curso do rock. Supõe-se que não é das qualidades morais dos homens que as compõem que se fala (não é costume falar-se de bandas honestas que contenham miúdas), mas do facto de não estarem aqui para enganar ninguém. Atendendo à regra universal da boa educação de que não se fala mal de quem que se antecipou na tarefa, ao fazê-lo, tornamo-nos nós próprios desonestos maus caracteres, por trazer argumentos como a qualidade musical para uma discussão sobre Xutos, afastando o debate do seu núcleo central. É como dizer que a Madre Teresa não era assim muito gira.
28.6.11
Só há um filme.
É quase sempre nas personagens que reflectem as nossas fraquezas que está o mais provável de nós. Isto é tão verdadeiro com Fredo no Padrinho como com George em Seinfeld. A cautela leva a que nos afastemos do príncipe perfeito que é Sonny Corleone e o pudor afasta-nos de Michael. O que é mais difícil de entender é a repulsa que tantos dos que vêem o Padrinho sentem por Kay Adams. Estranho porque, como Fredo, Kay é uma de nós, não nas suas fraquezas mas por ser alienígena a todo aquele código de honra e de família. E estranho porque, num filme apinhado de cobardes, homens que mandam matar, homens que batem em mulheres grávidas, de bufos e traidores, num filme onde a coragem é tão ausente de todos, com as importantes excepções de Vito e Sonny, deixamo-nos naturalmente comover com o genro do padeiro que escolhe ficar com Michael à porta do hospital, mas não com a extraordinária coragem de Kay durante toda a saga.
Fredo é perdoado por deixar cair a arma enquanto o pai é assassinado por temermos que a nós próprios sucedesse o mesmo. Kay deixa de ser uma de nós, no momento em que, à traição, revela a coragem que reservámos para os heróis. E isso nunca lhe perdoaremos.
21.6.11
Um blog alimentado a maus fígados
Agora que a fotogenia implacável do Villas-Boas deixa de nos ensombrar a todos, sinto-me novamente em condições de escrever.
Um blog alimentado a memes
Por razões de ordem diversa, nem eu nem a Puta de Prisão podemos ou pretendemos recusar qualquer tipo de solicitação da Menina Limão, pelo que, cá está.
1. Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?
Passo a vida nisso, mas com BD. Como sou muito pobre e não posso ter os livros de BD que quero, releio tudo o que tenho de seis em seis meses há dezoito anos. Portanto é seguro garantir que já li a Balada do Mar Salgado 36 vezes, e as páginas em que entra a Pandora umas trezentas. Além disso, não tenho jeito para ler na cama, por isso um livrinho de BD é a companhia mais segura para poder adormecer a meio da leitura. Mas que não se veja aqui falta de respeito.
2. Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?
Passo a vida nisso, mas com escritores russos. O único que tem uma história que vale a pena contar é o Margarita e o Mestre, que comecei a ler uma vez que saiu com o Público. Calhou que o livro trazia defeito e a meio passávamos da página x para a página x+40. Há pessoas que teriam escrito ao Público e enviado a cópia defeituosa, solicitando uma nova; outras, mais preguiçosas, ter-se-iam dirigido à loja do Colombo e propunham a troca pessoalmente; este vosso está na categoria dos que se conformam com as inevitabilidades. Anos mais tarde comprei uma edição em inglês muito bonita e barata, que recomecei a ler logo no autocarro, e cheguei a ser avistado a lê-la uns dias depois numa paragem do 38. Mas não passei da cena (cena?) do jardim. Quando conheci a Puta, para a impressionar, voltei a pegar-lhe quando fomos passear a um jardim em Lisboa, mas depois houve outro problema e coiso. Sei tudo sobre a cena (cena...) inicial deste livro e já me consigo safar em reuniões sociais em que o Bulgakov venha ao barulho.
3. Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?
Não percebo esta questão. Estamos a falar de abrir o mesmo livro todos os dias do resto da minha vida, com a possibilidade de ir lendo outros para manter a sanidade? Isto é uma daquelas oportunidades para as pessoas responderem a Bíblia ou assim, não é? Ou estamos a falar de ter só um livro por toda a vida, como naquelas perguntas de ilha deserta? Se for assim, Deus me livre, mas se me encostassem uma arma à cabeça para responder, eu pedia para me deixarem ficar com as obras completas de Borges, na verdade um livro em quatro volumes (esta seria a minha argumentação, pelo menos). Se estivermos só a falar de voltar a um livro recorrentemente, então remeto para a resposta à pergunta 1.
4. Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?
A minha herança genética comporta alguma longevidade, pelo que estou confiante de que não vai haver chatices. O único problema são aqueles livros que se têm de ler a uma determinada idade, e eu só li um dos livros dos Cinco. Também não li o Senhor dos Anéis (nem vi), mas estou em paz com essa situação. Para falar a verdade, nessa altura eu não lia muito mais do que aqueles livrinhos verdes que se jogava com dados.
5. Que livro leste cuja 'cena final' jamais conseguiste esquecer?
Esta pergunta podia ser muito engraçada se fosse 'De quantas cenas finais de livros te lembras?'. Uma pessoa não leva nada desta vida, está visto.
6. Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?
Não, nenhum hábito.
7. Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?
Eu tenho a escolaridade completa e em finanças, por isso a lista é longa, mas poupo-vos.
8. Indica alguns dos teus livros preferidos.
Tenho muito medo que, daqui a alguns poucos anos, o que deixar aqui possa ser usado contra mim. A verdade é que fiquei muito impressionado com uma meia-dúzia de livros assim que os acabei e que hoje não lhes toco nem com luvas, outros sobreviveram mais ou menos e a outros perdi-lhes o interesse. Eu cresço muito, sabem? Digamos que houve livros que influenciaram mais as compras seguintes do que outros. Por exemplo, as Formigas de Boris Vian, o Evangelho segundo Jesus Cristo de Saramago, a Insustentável Leveza do Ser de Kundera, a Crónica de uma Morte Anunciada de Garcia Márquez, as Cidades Invisíveis de Calvino, e a História Universal da Infâmia de Borges, todos lidos a tempo, graças a Deus, mas só estes dois últimos é que poderiam entrar numa lista de preferidos. Antes que faça uma adenda junto-lhes o Lincoln e Myra Breckinridge de Gore Vidal (e todos os outros, enfim), Lolita de Nabokov, Money de Martin Amis, Moby Dick de Melville, O Coração das Trevas de Conrad, a Balada do Mar Salgado de Pratt (se alguém achar que esta insistência no Corto Maltese é uma piada, ou tentativa de ser engraçado, está fodido comigo) e outros, pá e outros. Eu nem me lembro dos fins dos livros, querem que me lembre de títulos.
9. Que livro estás a ler neste momento?
A puta da Puta vai-se rir, mas estou a fazer tudo por ler o 1876 do Gore Vidal.
10. Indica dez amigos para o Meme Literário:
Eu não quero que os meus amigos saibam que eu tenho um blog, peço desculpa.
14.3.11
- És um zero.
Não foi ter-me dito isto que fez dela uma puta, muito pelo contrário: És um zero era tudo o que eu queria ouvir, letra a letra. Também não foi por ser um cretino que a única resposta possível teria de ser - Tu é que és. Afinal, talvez o zero a denominador não faça o universo implodir, ou outras catástrofes semelhantes. E ainda que faça...
Não foi ter-me dito isto que fez dela uma puta, muito pelo contrário: És um zero era tudo o que eu queria ouvir, letra a letra. Também não foi por ser um cretino que a única resposta possível teria de ser - Tu é que és. Afinal, talvez o zero a denominador não faça o universo implodir, ou outras catástrofes semelhantes. E ainda que faça...